Segundo um estudo do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) divulgado em maio de 2024, jovens, mulheres e a população negra continuam enfrentando grandes obstáculos para ingressar no mercado de trabalho. Para aprofundar essa questão no que se refere aos jovens e discutir possíveis caminhos, convidamos Getulio Fidelis, doutor em Ciências Sociais pela PUC-Rio para um bate-papo.
Fidelis atua como professor de Sociologia e coordenador de disciplinas como Geografia, Filosofia, História e Sociologia no Colégio Santo Inácio. É pesquisador do Núcleo de Estudos sobre Federalismo, Política e Desenvolvimento (NUFEPD) da PUC-Rio / CNPq e possui trabalhos nas linhas de pesquisa: Federalismo, Relações Intergovernamentais e Desigualdades Regionais em Perspectiva Comparada; Política e Desenvolvimento do Rio de Janeiro; Governança e Políticas Públicas.
Nesta entrevista, conversamos sobre juventude periférica, qualificação profissional, educação e mercado de trabalho. Confira:
Instituto JCA: Quais os principais desafios enfrentados pela juventude periférica na atualidade ao buscar oportunidades de trabalho?
Getulio Fidelis: Ao buscar oportunidades de trabalho, parte-se da hipótese de que a juventude esteja qualificada. Porém, a realidade é outra. A juventude periférica se depara com dificuldades de seguirem nos estudos uma vez que as baixas condições financeiras se tornam determinantes na hora de se pensar em capacitação profissional. Isso acarreta muitas dificuldades ao almejam o ingresso no mercado de trabalho. Chega-se ao grande problema: sem experiência profissional nem qualificação, não há chances de conseguir o primeiro emprego. Uma alternativa, quando há, é ocupar os postos de trabalho que exigem baixa ou nenhuma qualificação além da informalidade.
Instituto JCA: Como a falta de oportunidades de trabalho impactam na vida pessoal e social desses jovens?
Getulio Fidelis: Ao não conseguirem ocupar uma vaga no mercado de trabalho, os jovens podem se encontrar num universo de frustrações. Isso pode acarretar um sentimento de resignação. Por exemplo, de acordo com dados da Síntese de Indicadores Sociais (SIS) 2023 – divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), um em cada cinco jovens de 15 a 29 anos não estudavam nem trabalhavam em 2022. Esse grupo ficou conhecido como “Geração Nem Nem” (nem trabalham, nem estudam). Os mesmos dados mostram que cerca de 4,7 milhões de jovens não procuraram emprego nem queriam saber dos estudos.
Instituto JCA: Como políticas públicas podem contribuir para transformar esse cenário?
Getulio Fidelis: Políticas Públicas como o programa Jovem Aprendiz é uma ótima alternativa para a capacitação e o consequente ingresso dos jovens no mercado de trabalho. O Estado e a iniciativa privada devem ser parceiros na formação desses jovens. Mas algumas políticas devem ser focalizadas nos jovens periféricos, visto que são os que mais encontram dificuldades no que diz respeito à qualificação e capacitação para o mercado de trabalho.
Instituto JCA: Diante disso, como você vê o papel da educação e da qualificação profissional na superação das desigualdades e na inserção profissional desses jovens?
Getulio Fidelis: Antes de pensarmos no papel da educação e da qualificação profissional nesse processo, torna-se necessário fazer com que os jovens passem a ver a educação como um ethos. O que quero dizer com isso? Os jovens devem compreender que a educação não é uma simples escolha, mas um fator imperativo que trará as condições de, por exemplo, quebrar o ciclo vicioso da pobreza nas famílias da periferia.
Instituto JCA: Quais tendências você vê no futuro do trabalho que podem afetar a juventude periférica?
Getulio Fidelis: Quando falamos em tendências no futuro do trabalho, devemos acrescentar o elemento tecnologia. Hoje, fala-se em tecnologia e inovações no mundo do trabalho. E, ao falar em tecnologia, o futuro pode ser já amanhã, visto o dinamismo dos avanços tecnológicos no nosso dia a dia. Para não ficar para trás nessa corrida por melhores postos de trabalho, à juventude periférica se impõe um grande desafio: acompanhar os avanços da tecnologia. Vencerá os que terão a capacidade de se adaptar às novas tendências.
Instituto JCA: Nesse sentido, o que os jovens das periferias podem fazer para se preparar melhor para essas mudanças?
Getulio Fidelis: Caberá aos jovens das periferias a busca incessante pela qualificação. Nesse cenário, a palavra do momento é “adaptabilidade”, ou seja, é a capacidade de se ajustar a diferentes situações, circunstâncias ou ambientes, de forma ágil e eficaz. Isso é uma das principais demandas, junto à qualificação profissional, do mercado de trabalho.
Instituto JCA: Por fim, qual mensagem você gostaria de deixar para os jovens da periferia que buscam oportunidades no mercado de trabalho?
Getulio Fidelis: Como professor, minha mensagem será sempre a seguinte: estudem. Busquem se qualificar. Tal mensagem pode não fazer sentido para milhares de jovens de todas as periferias do Brasil, já que o cenário de vulnerabilidade social em que se encontram impede de seguir na tentativa de realizarem seus sonhos. O desafio está dado. Estado, escolas, sociedade e empresariado devem se unir na busca de solucionar um problema grave na geração atual: a falta de oportunidades para os jovens periféricos. Um dos caminhos para solucionar tal problema é a educação.