“O Brasil ainda enfrenta desigualdades sociais muitos graves”

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Anderson Paulino da Silva é Doutor em Sociologia pelo IESP/UERJ, com pós-doutorado pelo Programa de Pós-graduação em Educação da UFRJ. Atua como professor substituto da Faculdade de Educação da UFRJ e pesquisa políticas educacionais e acesso à educação. Anderson já integrou a equipe do IJCA como analista de programas sociais e consultor entre 2012 e 2015. Nesta entrevistas, ele fala sobre desigualdade educacional e a importância de políticas públicas como a Lei de Cotas. 

Instituto JCA: Como se caracteriza a desigualdade de acesso ao nível superior e como isso se reflete na realidade da juventude periférica?

Anderson Paulino: O Brasil ainda enfrenta desigualdades educacionais muito graves. Temos construído muito conhecimento sobre esses problemas e algumas medidas importantes foram adotadas nas últimas décadas, como é o caso da política de cotas nas Instituições Federais de Ensino. Mas ainda percebo muita desesperança entre os jovens das periferias brasileiras quando indagamos sobre os seus anseios de acesso ao ensino superior. Trata-se de uma desesperança constituída pelas condições socioeconômicas das famílias, pela realidade cultural das regiões periféricas e, talvez o mais importante, o clima organizacional identificado em muitas escolas. Esse conjunto de fatores forma uma barreira que deixa muitas vezes à mercê da força de vontade individual do estudante mover-se para buscar o acesso ao ensino superior.         

Qual a importância da política de cotas como mecanismo de distribuição de oportunidades para jovens negros e de escolas púbicas? E por que sua manutenção e aprimoramento são fundamentais?

A Lei de Cotas aprovada em 2012 tem sido, sem dúvida, o principal instrumento de promoção da equidade social na educação no Brasil. Em primeiro lugar, penso que a lei compromete a excelência das universidades públicas com as questões enfrentadas no sistema de educação básica. Em segundo, ela cria oportunidades concretas para grupos de estudantes que estiveram historicamente distantes dessas instituições. Sobre este aspecto, percebemos que a diversidade social nos campos e nas salas de aula gera experiências muito positivas para o convívio dos estudantes e a pauta de temas que são debatidos. 

Essa lei acaba de completar 10 anos, que é evidentemente um prazo muito curto para a solução de problemas que têm raízes muito profundas na sociedade. Diante disso, também é necessário pensar em seus aprimoramentos. Sabemos bem que a matrícula não assegura uma permanência minimamente qualificada nas universidades. São desafios  enfrentados que envolvem questões sobre as condições materiais e pedagógicas dos estudantes. É preciso que a política pública avance bastante nessa direção para que a sociedade também passe a se revelar mais democrática em outras esferas, como no caso mais óbvio do mercado de trabalho.            

Qual a importância das famílias nesses ciclos de escolarização dos jovens, desde o final do ensino fundamental até a entrada no nível superior?

As famílias são fundamentais na construção das trajetórias escolares das crianças e adolescentes. Fala-se muito do papel das famílias no amparo emocional e no incentivo das tarefas escolares. Mas um dado relevante, que gostaria de destacar, é a orientação daquelas famílias que detém um nível maior de informação na busca por escolas públicas que apresentam maior qualidade. Isso implica muitas vezes em apoiar os adolescentes em escolas localizadas em bairros mais distantes ou que funcionam em tempo integral, mas que tendem a potencializar as chances dos filhos no ingresso em instituições de ensino superior também com maior qualidade.      

Há caminhos para possibilitar que mais jovens de camadas vulneráveis possam acessar o ensino superior?

Esse é desafio que está posto para que possamos consolidar e aprofundar a democratização do ensino superior no Brasil. Trata-se de um desafio que passa pela atuação conjunta dos governos, ONG’s, escolas e professores. Apesar das cotas terem mais de 10 anos, ainda há muita desinformação sobre o funcionamento dessa política entre os estudantes, as famílias e até mesmo professores. Esses caminhos passam também pelo debate sobre a oferta de vagas e de cursos de formação nas instituições de ensino superior. Apesar de alguns avanços, as taxas no Brasil são menores que a de muitos países com o mesmo nível de desenvolvimento econômico.  

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