Com a necessidade do isolamento social devido a pandemia, as escolas precisaram ficar fechadas e a continuidade dos estudos se tornou um desafio. Com a autorização do Ministério da Educação para o ensino remoto, as organizações se adaptaram de maneiras distintas, aprofundando diferenças entre a rede pública e privada. A pesquisa do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep) chamada Resposta Educacional à Pandemia de Covid-19 no Brasil, revelou que, na comparação entre as escolas públicas e particulares, as desigualdades são evidentes. No ensino privado, 70,9% das escolas ficaram fechadas no ano passado. O número é consideravelmente menor que o da rede pública: 98,4% das escolas federais, 97,5% das municipais e 85,9% das estaduais.
Já o estudo Perda de Aprendizagem na Pandemia, uma parceria entre o Insper e o Instituto Unibanco, estima que no ensino remoto, os alunos aprendem, em média, apenas 17% do conteúdo de matemática e 38% do de língua portuguesa, em comparação com o que ocorreria nas aulas presenciais.
Atuando nesse contexto, o Fortalecendo Trajetórias estruturou suas ações para lidar com essa realidade. Além da manutenção do acompanhamento constante dos jovens que estão na fase de Acompanhamento, o IJCA ofertou em 2021 turmas do Reforço Escolar em formato híbrido, com jovens estudando de forma virtual e presencial na sede do IJCA. “No último dia 16 de dezembro, 68 jovens concluíram o Reforço Escolar. A equipe e professores se empenharam muito para fazer as adaptações necessárias e possibilitar que esses jovens pudessem continuar estudando”, afirma Maysa Gil, coordenadora executiva do IJCA.
Ainda assim, uma série de desafios foram encontrados para dar continuidade ao esforço de manter os jovens estudando. “Observamos que houve um número excessivo de faltas nas aulas online instabilidade na internet, queda na luz, furtos de cabos de internet, compartilhamento do celular do jovem com o responsável ou outro membro da família, jovens sem internet e/ou equipamentos para acessá-la. Isso aponta como as dificuldades desses jovens de origem popular a se manter estudando e é um reflexo dos aprofundamentos das desigualdades educacionais”, pontua Kenia de Oliveira, analista de projetos do IJCA.
De acordo com a analista, o principal caminho para realizar as ações e apoiar os jovens foi o acompanhamento social e pedagógico, com forte interação entre equipe, jovens e responsáveis. Foi preciso conhecer a realidade social dessas famílias, entender a dinâmica de vida de cada um para compreender o jovem em sua totalidade e buscar caminhos para soluções de problemas em conjunto. “Para tanto, o mapeamento da rede socioassistencial do território do jovem foi essencial para orientação e encaminhamento social do jovem e sua família. Além da intervenção pedagógica através do diálogo com as professoras e estudantes buscando entender os processos de ensino e aprendizado para traçar estratégias de defasagens que se apresentaram de forma muito aprofundadas”, explica Kenia.